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"Batuque-se” conquista certificação de propriedade intelectual
Iniciativa busca facilitar a inclusão de pessoas com deficiência auditiva em atividades musicais
Publicada em 29/04/2021 ― Atualizada em 30 de Março de 2023 às 07:08

Em abril de 2021 o Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) concedeu nova certificação a
mais um trabalho de estudantes e professores do IFRN. Desta vez, do Campus Pau
dos Ferros, a conquista foi de um novo registro de propriedade
intelectual, que se deu a partir do desenvolvimento de programa de
computador cujo projeto beneficia pessoas com deficiência auditiva,
intitulado: "Batuque-se: Pulseira e Aplicativo para Auxiliar Surdos com
Percussão".
O software, agora certificado,
foi fruto de pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC),
desenvolvido por Lucas Guimarães Pessoa de Carvalho e Maria Eliza Gurgel
Fernandes, estudantes (hoje egressos), sob orientação dos professores
Luís Rodrigues da Silva Filho e Elenilson Vieira da Silva Filho,
atualmente no Instituto Federal da Paraíba (IFPB). Segundo sua ementa,
"o projeto visa facilitar a inclusão de pessoas com deficiência auditiva
em atividades musicais. Em resumo, funciona de maneira a auxiliar estes
deficientes a sentirem a música através de uma pulseira, que vibra a
partir de sincronismo com um aplicativo móvel".
O projeto
Lucas Guimarães explica que a ideia inicial surgiu da observação de
um episódio do programa “American Got Talent”, exibido na TV
norte-americana. "Vi uma cantora - Mandy Harvey - que havia perdido a
sua audição aos 18 anos e encontrou mecanismos para se adaptar à sua
nova realidade e não deixar de expressar sua musicalidade. Depois,
conversando com minha colega de equipe, Eliza, idealizamos que pessoas
do nosso cotidiano também mereciam ter a oportunidade dessa vivência.
Nesse ínterim, o ponto principal da participação no projeto foi
justamente entender que, com inovação tecnológica, podemos transformar a
realidade das pessoas ao nosso redor e possibilitar que histórias
inspiradoras como a de Mandy Harvey possam fazer parte do nosso dia a
dia”, explicou o estudante.
Lucas ainda acrescentou que pesquisa e suporte permitiram a superação
de obstáculos para o êxito no projeto: "Os desafios principais se deram
em duas vertentes: a identificação de uma forma eficaz de transmitir a
experiência rítmica com percussão para não ouvintes e na obtenção de
componentes eletrônicos e plugins para a execução do projeto. “O
primeiro obstáculo foi superado com muitas pesquisas sobre estudos que
pudessem comprovar a viabilidade do projeto, a partir dos quais pudemos
constatar que deficientes auditivos podem sentir o ritmo musical a
partir de vibrações e estímulos visuais; já a obtenção dos componentes
necessários, em sua grande parte, foi possibilitada pelo Campus Pau dos Ferros do IFRN”, esclareceu.
Pulseira e do aplicativo móvel
O professor orientador, Elenilson Vieira, lembra que Maria Eliza e
Lucas Guimarães, então no quarto ano do curso técnico Integrado em
Informática, procuraram-no porque “queriam ajudar deficientes auditivos a
escutar música”. Eles tiveram a ideia de fazer uma pulseira que
vibrasse no ritmo da música para um estímulo físico. Aliado a isso,
queriam um aplicativo móvel com umas bolinhas caindo e mudando de cor, o
que causaria um estímulo visual. O instrumento musical escolhido foi o
surdo, ou seja, a cada batida do surdo, a pulseira iria vibrar e as
bolinhas iriam cair e mudar de cor”, exemplificou.
O docente ainda contou alguns detalhes do processo da orientação:
“ficamos eu e o professor Luís Rodrigues, que é de hardware, como
orientadores. Logo passamos orientações para a construção da pulseira e
do aplicativo móvel, que se comunicavam via bluetooth. A música
escolhida para os experimentos iniciais foi Asa Branca, de Luiz Gonzaga.
Ainda fizemos experimentos com algumas pessoas, uma delas foi o
comunicador do Campus Pau dos Ferros, Marcílio França” disse.
De acordo com Lucas, a relevância do projeto foi algo pensado desde
as primeiras ideias sobre o tema. “Sempre tivemos a consciência de que
vivemos em uma sociedade na qual a música faz parte do cotidiano.
Estamos em um mundo em que a música é fator matriz de diversos aspectos,
os quais vão desde o lazer à integração de um indivíduo no escopo
social. Possibilitar que deficientes auditivos sintam a música e
expressem a sua musicalidade é fundamental para a integração social
dessas pessoas". O estudante finalizou encorajando novas pesquisas “a
experiência com o “Batuque-se” foi transformadora e extremamente
gratificante, espero que mais estudantes tenham a oportunidade de buscar
interferir na sua realidade e inspirar e ser inspirado por pesquisas
científicas”, expressou.
Certificação
O valor científico e social que o projeto possui rendeu aprovação e apresentação no International Conference on ENTERprise Information Systems (Centeris), realizado em outubro de 2020, em Portugal.
A certificação emitida pelo Inpi tem validade de 50 anos; como ela,
o IFRN já acumula mais de 100 registros de softwares, mais de 30 de
patentes, além de transferências de tecnologia.
::: CONTEÚDO RELACIONADO:
13/04/2021: Campus Pau dos Ferros conquista nova certificação de propriedade intelectual de estudantes e professores.
08/07/2020:Projeto desenvolvido no Campus que beneficia deficientes auditivos é aprovado para Conferência Internacional em Portugal.