GESTÃO
IFRN continua com quase R$ 10 milhões do seu orçamento bloqueados
Caso valor não seja desbloqueado, instituição prevê dificuldades para honrar seus compromissos financeiros
Publicada em 21/05/2021 ― Atualizada em 30 de Março de 2023 às 07:02

Além das problemáticas impostas pela pandemia de Covid-19, o
Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e demais instituições
públicas de ensino federal tem outro grande desafio a lidar: a
diminuição do orçamento para fazer frente às despesas de manutenção, de
assistência estudantil e de fomento ao ensino, à pesquisa e à extensão.
Em março, com a aprovação da Lei Orçamentária Anual de 2021
(LOA), o Instituto precisou encarar o primeiro grande impacto: redução
de 22,81% no valor destinado a essas ações. Esses recursos são voltados
ao pagamento das contas (água, luz, telefone, internet), compra de
materiais de limpeza, de laboratórios, equipamentos, reformas prediais,
além da assistência estudantil e do fomento a projetos. A pandemia de
Covid-19 trouxe outros desafios: a necessidade de mais investimento em
pesquisa científica para buscar saídas a este momento e a concessão de
auxílios digitais para os estudantes em vulnerabilidade social.
Ou seja: a necessidade de recursos aumentou. Mas os R$
91.955.305,00 de 2020 se transformaram em R$ 70.975.528,00 em 2021. A
queda percentual representou uma redução de mais de R$ 20 milhões. Para
piorar, dos 70 milhões que restaram, o Governo Federal bloqueou um
montante de quase R$ 10 milhões.
Com o cenário de cortes e bloqueios e toda a incerteza
sobre seus orçamentos, muitas instituições federais de ensino divulgaram
o receio de não conseguir mais funcionar. A situação reverberou e houve
exposição na mídia nacional. A pressão teve resultado e em 14 de maio o
Ministério da Educação liberou o valor que estava pendente de aprovação
para o ano, mas manteve os valores bloqueados (R$ 9.955.468 no IFRN).
Ano | Recursos | Estudantes | Benefícios de assistência estudantil |
---|---|---|---|
2019 | R$ 97 milhões | 39 mil | 19 mil |
2020 | R$ 92 milhões | 41 mil | 24 mil |
2021 | R$ 71 milhões, dos quais R$10 milhões estão bloqueados | (Contabilizando) | (Contabilizando) |
O IFRN tem riscos de fechar?
Essas foram as principais perguntas que surgiram em meio a
esse contexto. Com a marca de um planejamento rigoroso, o pró-reitor de
Administração do Instituto, Juscelino Cardoso, é enfático: “neste momento, o Instituto não vai parar de funcionar,
mas precisamos que o MEC libere os recursos orçamentários que continuam
bloqueados. Do contrário, não conseguimos pagar as nossas contas”.
Desde 2019 a Instituição vem tentando encontrar saídas para
manter seu padrão de qualidade na formação dos estudantes, mesmo com
sucessivos cortes orçamentários. Isso vem exigindo o gasto de muita
energia para refazer constantemente os planejamentos, diminuir ao máximo
os gastos de manutenção predial, readequar os projetos e fomentos, além
da busca por parcerias e recursos externos. “Até agora conseguimos e
neste ano vamos manter nossos compromissos com muito esforço, desde que
os quase 10 milhões vetados sejam desbloqueados. Mas para os próximos
anos não temos mais onde cortar”, sentenciou o pró-reitor.
A pró-reitora de Planejamento e Desenvolvimento
Institucional, Antônia Silva, lembra que o IFRN se pauta no Plano de
Desenvolvimento Institucional (PDI 2019-2026) para definir sua oferta de
cursos, número de vagas e projetos científicos e tecnológicos. “Isso é
realizado com base em estudos sobre a necessidade de desenvolvimento do
estado. Sem recursos, não temos como manter as ações e promover o
diferencial que a Instituição oferta ao RN: educação pública de
excelência com o fomento da pesquisa, da inovação, do empreendedorismo e
da extensão”
Quais as consequências para a Instituição
No Ensino, área que exige a maior parte dos esforços, o
corte foi de 30,75%, que representam R$ 921.564 a menos para projetos e
ações. Isso impactou no corte de bolsas ofertadas a estudantes através
de programas para o apoio à permanência e o êxito, além de comprometer a
participação dos alunos em olimpíadas de conhecimento. “Os recursos
destinados às atividades externas, como aulas de campo e visitas
técnicas, foram deslocados para a assistência estudantil, com o objetivo
de reforçar os auxílios digitais, essenciais no atual contexto de
pandemia. Quando se iniciar o retorno gradual à presencialidade, não
haverá recursos para realizar essas atividades externas, comprometendo
fortemente a qualidade do ensino”, alertou o pró-reitor Dante Moura.
Mesmo com a pandemia de Covid-19 e a necessidade de suporte
a 92% de estudantes em vulnerabilidade social, os cortes na Assistência
Social foram críticos: 18% a menos, o que representou R$ 4.124.546. Da
Pró-Reitoria de Ensino, vieram R$ 177 mil para complementar os recursos
para auxílios digitais aos ingressantes em 2021.1 que não possuem
computador nem internet para acompanhar as aulas no formato remoto. O
IFRN lançou um edital, em 17 de maio, com a oferta de 2.0316 auxílios
digitais. Mas a diretora de Gestão em Atividades Estudantis, Valéria
Regina, destaca que isso não é suficiente: “não conseguimos ofertar
novas vagas para os auxílios de alimentação e moradia. Para 2021.2,
contamos com recursos de emendas parlamentares, como R$ 1 milhão e meio
da deputada federal Natália Bonavides, mas ainda assim não conseguimos
garantir toda a assistência necessária para manter os nossos estudantes
em aula. A realidade social do RN é muito difícil e estamos em todo o
estado”, destacou.
Na Pesquisa e Inovação, a redução orçamentária foi de 37%
em relação ao ano passado, uma perda de R$ 457.463. Com isso, os editais
para fomento de projetos de pesquisa aplicados à inovação precisaram
ser cortados. “Optamos por manter as ações voltadas ao empreendedorismo
junto às incubadoras tecnológicas , pois acreditamos que esta ação é
essencial ao estado neste momento de pandemia”, explicou o pró-reitor
Avelino Neto. Na Editora IFRN, vinculada à Pesquisa e à Inovação, todos
os livros editados neste ano sairão apenas em formato digital. Além
disso, as bases de dados - fontes de informações para os pesquisadores
institucionais - não puderam ser assinadas.
Já na Extensão, que promove a aplicação dos conhecimentos
produzidos na Instituição em ações sociais para a comunidade, a redução
de recursos de 2020 a 2021 foi de 49%, ou seja, R$ 646.209. A
pró-reitora Denise Momo explica que a consequência disso foi a
diminuição de 240 vagas no Programa Mulheres Mil, que oferta cursos de
profissionalização a mulheres em situação de vulnerabilidade social.
“Conseguimos um recurso externo de R$ 100 mil através do mandato da
vereadora Brisa Bracchi, para investirmos em cursos para mulheres em
vulnerabilidade social, mas a necessidade do estado é muito maior”,
explica.
Para a Gestão em Tecnologia da Informação, área
extremamente demandada no contexto da pandemia e de atividades digitais,
o corte foi de 37,6%, um valor a menos de R$ 541.504. O diretor André
Gustavo explica que, além disso, "a maior parte dos investimentos estão
parados para que as outras áreas possam executar os seus orçamentos".
Isso gerou a paralisação do projeto desktop virtual, que permitiria dar
acesso a laboratórios virtuais aos estudantes em casa, a melhoria das
ofertas de soluções de TI para apoio ao ensino remoto/híbrido e da EaD e
o apoio a investimentos em estrutura de TI nos campi. "Hoje não podemos
avançar para um maior uso do Moodle [plataforma digital utilizada na
EaD], inclusive dispondo de salas virtuais integradas, porque não temos a
condição de oferecer suporte e estrutura adequadas, o que demandaria
investimentos que não temos", acrescenta André.
Na Diretoria de Gestão de Pessoas, de acordo com a
coordenadora de Desenvolvimento de Pessoal, Lorena Faustino, a
diminuição foi de cerca de 31%, ou cerca de R$ 900 mil reais. Esse valor
deixará de ser investido na capacitação e qualificação de servidores,
ação essencial para a manutenção da excelência do ensino, da pesquisa
científica e da eficiência da administração.
Ensino | Atividades Estudantis | Pesquisa | Extensão | Gestão de Pessoas | Tecnologia da Informação |
---|---|---|---|---|---|
Menos R$ 921 mil, o que acarretou o corte de bolsas de auxílios a estudantes. Quando voltar à presencialidade, não haverá recurso para aulas de campo nem visitas técnicas | Redução de R$ 4.124.546 nos recursos. Não será possível atender a todos os estudantes que precisam de auxílio digital nem ofertar novos auxílios alimentação nem moradia | Com R$ 450 mil a menos, os editais para fomento de projetos de pesquisa aplicados à inovação e o acesso a bases de dados para pesquisadores foram cortados | Menos R$ 646.209 no orçamento e redução de 240 vagas nos cursos do Programa Mulheres Mil, que oferecem formação a mulheres em vulnerabilidade social | Cerca de R$ 900 mil a menos para as ações de capacitação e qualificação de servidores, essenciais à eficiência e à excelência da Instituição | Menos R$ 541.504, o que paralisou o projeto desktop virtual, que permitiria dar acesso a laboratórios virtuais aos estudantes em casa |
Palavra do reitor
“O orçamento dos Institutos Federais voltou aos patamares
de 2010, quando o IFRN tinha 20 mil estudantes matriculados e 13 campi
em funcionamento. Hoje atuamos junto a 41 mil estudantes, em 22 campi.
Como desenvolver ensino, pesquisa e extensão com a mesma qualidade
frente a uma redução desse nível dos recursos? Um maior investimento em
políticas de assistência estudantil, fomento a grupos de pesquisa,
ampliação de acervo de livros, melhoria de laboratórios, ações
culturais, práticas esportivas e ações extensionistas são fundamentais
para assegurar uma formação plena aos que adentram nossa Instituição em
busca de uma educação pública, gratuita e de excelência. Somos uma
instituição que alimenta os sonhos de milhares de jovens e adultos de
todo o estado do RN, de cidades da Paraíba e do Ceará. Portanto,
precisamos ecoar aos quatro cantos do estado a necessidade de
recomposição do orçamento institucional para que possamos continuar a
alimentar os corações e mentes da sociedade potiguar na perspectiva de
uma educação que emancipe, fortaleça a ciência e as transformações
sociais que tanto o Brasil precisa. Isso só vai acontecer com a
valorização da educação pública”, declarou o reitor do IFRN, professor
José Arnóbio.
Para conferir as ações do IFRN nos últimos anos, confira os seus Relatórios de Gestão.
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