PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO
Psicologia do IFRN e o trabalho de resiliência na pandemia
Um período desafiador e ao mesmo tempo com possibilidades de alcance à comunidade acadêmica
Publicada em 09/07/2021 ― Atualizada em 30 de Março de 2023 às 06:41

O trabalho da Psicologia do Instituto Federal do Rio Grande
do Norte (IFRN) vem se consolidando nos últimos anos, proporcionando
uma atuação cada vez mais coesa e integrada aos objetivos acadêmicos e
institucionais. Com a pandemia da Covid-19 e a nova realidade do
trabalho na forma remota emergencial, o grupo de psicólogos tem passado
por um período desafiador e, ao mesmo tempo, gerador de novas
possibilidades.
De acordo com Emanuelle Souza, psicóloga do Campus
Natal-Central e membro do Comitê Central Covid-19, no início da
pandemia, os profissionais da Psicologia do IFRN, assim como os demais
servidores da Instituição, vivenciaram sentimentos de angústia e de
insegurança. A partir disso, passaram a se questionar sobre como
poderiam desempenhar sua função, relacionada diretamente ao diálogo, ao
acolhimento, ao trabalho em equipe, à proposição de reflexões e de
provocações para a busca da saúde mental. Emergidos nessa realidade de
trabalho remoto emergencial, foram construindo novas estratégias para
realizar o trabalho da Psicologia no Instituto. “O grupo aumentou a
frequência dos encontros, fizemos estudos sobre o trabalho remoto, fomos
debatendo esses sentimentos coletivamente e continuamos integradas(os)
com as equipes multidisciplinares nos campi. Assim, o trabalho da
Psicologia na modalidade remota foi construindo uma identidade, que tem
alcançado a comunidade acadêmica”, explicou Emanuelle.
Segundo Cynthia Mota, Psicóloga da Coordenação de Atenção à
Saúde ao Servidor (Coas/IFRN), antes da Pandemia não eram realizados
atendimentos virtuais pelo Instituto. "Na reitoria do IFRN eram
realizados plantões psicológicos presenciais com os servidores todas as
sexta-feiras por agendamento ou não, então a partir do distanciamento
social o modo de atuação da psicologia foi totalmente modificado,
adotando-se o atendimento remoto e ampliando a atuação psicológica para
todos os integrantes do IFRN, servidores e alunos, durante todos os os
dias da semana", relembrou a Psicóloga.
Experiências remotas
No que se refere aos atendimentos online em parceria com o
Comitê Covid-19/IFRN, de acordo a psicóloga Emanuelle Souza. No ano de
2020, 317 pessoas procuraram atendimento psicológico e em 2021, até o
momento da informação concedida (1° de julho), 276 pessoas procuraram
atendimento psicológico online. Os atendimentos online em parceria com o
Comitê são apenas uma porcentagem de atendimentos que todas as
psicólogas e psicólogos do IFRN realizam. O acesso à psicologia para
atendimento individual pode chegar via e-mail do comitê, através de
agendamento no Sistema Unificado de Administração Pública (Suap), pelos
e-mails da psicologia de cada campus, dentre outras formas de acesso.
Além disso, práticas de atividades coletivas estão sendo
realizadas também com servidores, a exemplo do Grupo de Escuta. Outra
forma de intervenção da Psicologia são os atendimentos
multidisciplinares. Estes têm acontecido com bastante frequência e se
configuram em um trabalho em rede, onde cada profissional desenvolve sua
ação, num viés coletivo.
Para Cynthia Mota, Psicóloga da Reitoria, foram muitas
descobertas e aprendizados: “tem sido ainda uma grande construção, eu
particularmente nunca havia feito nenhum atendimento de forma remota,
não sabia como era um atendimento de psicologia através do computador, a
primeira vez que eu fiz isso foi agora, a partir da pandemia Covid-19”.
A psicóloga relatou que foram muitas as dúvidas neste período “teve um
momento em que muitas pessoas entraram em contato, um número muito
grande de pessoas solicitando atendimento, ficamos muito assustados,
queríamos fazer os atendimentos, mas a lista de espera estava crescendo
muito. Fomos seguindo no sentido de reaprender a funcionar, porque
acontecem coisas que no atendimento presencial não acontecia, por
exemplo, o estudante não querer abrir a câmera, às vezes por vergonha,
ou o servidor preferir falar apenas pelo chat, por estar no mesmo
ambiente da família, esposos ou filhos e não se sentir confortável para
falar”, exemplificou Cynthia.
Caroline Arruda, do Campus Macau e presidente do Grupo de
Trabalho (GT) de Psicologia do IFRN, compactua do mesmo sentimento de
Cynthia “Apesar dessa forma de atendimento já ser regulamentada pelo
Conselho de Psicologia desde 2018, eu ainda não havia realizado nenhum
atendimento nesta modalidade. Foi um desafio ultrapassar essa barreira
pessoal de ainda ficar comparando as possibilidades de trabalho
presencial e remotas. Presencialmente podemos controlar melhor o
ambiente, buscando diminuir as intervenções externas, garantindo de
forma mais precisa o sigilo da conversa, no entanto, no remoto temos que
fazer algumas recomendações sobre o sigilo e a segurança das
informações, além de não termos controle sobre o ambiente em que a outra
pessoa está. Ainda soma-se o fato de estarmos sujeitos às oscilações da
internet principalmente quando se trata de chamadas de vídeo. Apesar
desses desafios, os atendimentos e acompanhamentos on-line têm se
mostrado muito importantes e tenho tido diversos retornos positivos
dessa atividade”, relatou a psicóloga.
A Presidente do GT de Psicologia buscou uma saída em prol
de atender um maior número de pessoas, tendo vista a alta demanda de
busca pelo serviço oferecido “A demanda por atendimentos foi aumentando
com o passar do tempo e eu também divulguei um reforço no meu Campus que
estaria disponível para atendimentos individuais on-line não somente no
grupo do Plantão Psicológico, mas também diretamente para os estudantes
do Campus”, acrescentou.
A psicóloga do Campus Natal-Central recorda que, muitas
vezes, as escutas refletiam também dificuldades que eram suas, enquanto
servidoras e servidores. “Nesse sentido, algo que também ajudou, além da
união da equipe, foi não ficarmos parados, tendo o trabalho remoto como
um fator bloqueador, mas sempre estarmos fazendo o exercício de
enxergar possibilidades, de transpor as barreiras da tela do celular ou
do computador para o diálogo com os estudantes, servidores e com as
equipes multiprofissionais”, afirmou Emanuelle.
Izabelle, do Campus São Paulo do Potengi (SPP), acredita
que é o perfil da Psicologia do IFRN trabalhar com muita parceria, tanto
entre os profissionais da Psicologia quanto em relação a outras
equipes. “Via de regra, somos um profissional por Campus, e o espaço de
troca entre a gente é muito rico e necessário em virtude da grande
demanda que recebemos onde estamos inseridos e, inclusive, em algumas
situações, de campus onde não há psicólogos”, relata a experiência.
Psicologia sistêmica e o Grupo de Trabalho do IFRN
O GT de Psicologia foi criado com o objetivo de conduzir a
sistematização de atividades propostas a todo o grupo de psicólogas e
psicólogos do IFRN, atuando como um agente articulador e fortalecedor.
Sua atuação busca construir coletivamente projetos com objetivos
variados, desde a saúde do servidor à contribuição no processo de
ensino-aprendizagem, orientando-se no combate à evasão e na realização
de campanhas educativas, com ações voltadas ao Ensino, à Pesquisa, à
Extensão, à Gestão de Pessoas e à Assistência Estudantil. Entre essas
ações, estão atividades de acolhimento aos estudantes novatos, rodas de
conversa com os servidores sobre temáticas do contexto atual,
capacitações, trabalho em campanhas (Janeiro Branco, Setembro Amarelo),
participações em comissões institucionais e produção de vídeos
educativos e de acolhimento à comunidade acadêmica, postados nas redes
sociais do IFRN. O Grupo tem um viés propositivo e político, voltado
para as ações democráticas e participativas no Instituto.
A psicóloga do Campus São Paulo do Potengi aponta que uma
das defesas do GT é a criação de uma equipe de Psicologia sistêmica no
IFRN, ou seja, um profissional lotado na Reitoria que possa articular de
forma mais integrada o trabalho da Psicologia no IFRN de forma
sistêmica. “Até o momento não foi possível. Nesse sentido foi que surgiu
o GT Psicologia, como iniciativa própria no sentido de fortalecermos o
fazer da Psicologia a partir de discussões, reflexões e ações que,
obviamente, impactam a comunidade acadêmica do IFRN como um todo. A
proposta é que a composição do GT Psicologia varie de tempos em tempos,
entre nós, trazendo diferentes olhares e formas de trabalhar, tornando,
assim, o fazer mais rico e inclusivo. Ademais, nos sentimos
representados pelo GT Psicologia enquanto categoria junto à comunidade
em geral, em especial, pela sua característica de construção coletiva”,
destacou.
Cynthya, psicóloga da Reitoria, conta como o GT faz a
comunicação entre o grupo de psicologia e a gestão do IFRN. “O GT
unifica as informações, age como o conselho de Psicologia e faz a
comunicação entre a secretaria de saúde e os colegas, recebe informações
da gestão, passa para os colegas, pega dos colegas, passa para gestão.
Tira dúvidas, propõe encaminhamentos, ou seja, faz parte de um papel
fundamental para que o nosso trabalho flua melhor, pois como uma
instituição capilarizada como a nossa, é necessário que alguém tenha
essas informações e faça o gerenciamento adequado. Durante a pandemia,
esse trabalho foi indispensável para o desenvolvimento das atividades em
meio aos desafios, pois o GT propõe e media reuniões, que agora serão
mensais, mas em meio à pandemia foram encontros semanais devido à alta
demanda de atendimentos”, explica.
Resiliência
Emanuelle acredita que é de extrema importância a
Psicologia na educação, especialmente em tempos tão desafiadores quanto o
que estamos vivendo. “É um trabalho que se faz em rede com outras
profissões como serviço social e pedagogia para fazermos valer o direito
à educação dos estudantes. Além disso, a Psicologia traz reflexões e
promove diálogos para que as pessoas possam sempre buscar recursos de
fortalecimento, sentirem-se protagonistas, capazes de fazer escolhas
consistentes e traçar projetos de vida que façam sentido para si mesmas e
para seu contexto”, explica.
A Psicóloga do Campus Natal-Central acredita que seu
trabalho atua como um agente reflexivo que incentiva a busca por
possibilidades e caminhos de superação, trabalhando a construção da
autonomia dos sujeitos, além de mobilizar para a transformação de
realidades. “Tais propostas se fazem desafiadoras no atual momento
político de desinvestimento do Estado nas políticas públicas,
especialmente no que tange à educação. A Psicologia compreende que a
pessoa humana se constrói socialmente, sendo assim, o campo da educação é
favorecedor, pois, mesmo de forma virtual, a Psicologia incentiva a
busca pelo fortalecimento coletivo, pelos laços de afeto e
solidariedade, para o enfrentamento dos desafios cotidianos que estamos
vivenciando”, esclarece.
Caroline Campos percebe que a pandemia, o convívio com a
doença e o próprio adoecimento, o luto, o distanciamento social, a hiper
convivência familiar e a própria adaptação às aulas remotas
emergenciais, com todos os seus desafios, têm aumentado a demanda
relacionada à saúde mental. “Hoje em dia tenho sido convidada para
discutir a temática da saúde emocional em reuniões pedagógicas, nos
seminários de integração, encontros pedagógicos e eventos do campi.
Apesar da comparação ainda existente entre a forma de contato anterior à
pandemia e a nossa principal forma de contato atualmente, o virtual,
posso afirmar que esses encontros têm acontecido de forma
surpreendentemente positiva. São encontros virtuais carregados de uma
potência afetiva, de acolhimento, de energia vital, de intensas trocas e
muito aprendizado de todos os lados”, enaltece.
A Psicóloga do Campus Macau relembra: "paulatinamente as
minhas atividades de trabalho foram aumentando desde o início do
trabalho remoto. Hoje eu tenho participado das reuniões pedagógicas do
meu Campus; sou membro da Equipe de Planejamento Pedagógico, criada
nesse período; realizo atendimentos individuais aos estudantes do campus
e atendimentos em conjunto com a equipe multiprofissional; participo
das reuniões de planejamento do meu setor; faço parte do Comitê Local
Covid-19; atualmente presido o GT de Psicologia; faço parte da equipe de
Coordenação de um projeto de Extensão; e, estou conduzindo juntamente
com outras colegas o Grupo de Escuta dos Servidores”.
Cynthia, psicóloga da Reitoria, também se adaptou a uma
nova rotina de trabalho. “A maioria dos psicólogos do IFRN atuam na área
de psicologia escolar. Excepcionalmente na Reitoria temos duas
psicólogas do trabalho, o que faz toda diferença para nossa atuação
específica. A maioria dos psicólogos trabalham em questões de ensino e
aprendizagem, já nós somos lotadas na Coordenação de Atenção à Saúde do
Servidor (Coass/IFRN), que é diferente dos outros colegas, é uma
atendimento voltado aos servidores, então eu vim atender alunos agora
com a pandemia, pois tiveram muitas mudanças para tentarmos atender a
demanda atual”, explica.
Cynthia entende que esses desdobramentos são a grande
alegria da profissão. “Temos a compreensão que é a psicologia importante
para a sociedade no momento atual. Todo nosso trabalho, apesar de muito
cansativo, também é muito gratificante, então tenho muito orgulho da
minha profissão, do trabalho que o Grupo de Psicologia do IFRN vem
fazendo, a hashtag #Orgulhodepertecer cabe muito para nós. Tem sido um
trabalho muito bonito, árduo, mas bonito. Acho que precisaríamos de mais
força de trabalho, acredito que ainda sejamos um grupo muito pequeno
para a quantidade de trabalho que nos é solicitada. A gente gostaria de
fazer muito mais, mas infelizmente não temos pernas, a gente sabe que
tem muito trabalho necessário, importantes e urgentes, mas temos também
as nossas limitações”, afirmou a psicóloga da Reitoria.
Para Izabelle, do Campus São Paulo do Potengi, é
inquestionável que o trabalho remoto possibilitou aproximação e
fortaleceu esse apoio, o qual, destaca, vem desde o presencial. “Quando
vivenciamos alguma situação mais delicada ou mesmo desafiadora quanto ao
nosso fazer, compondo ou não o GT Psicologia, temos a liberdade de
procurar o Grupo para partilhar a situação e juntos pensarmos em
estratégias e encaminhamentos. A Psicologia na Educação é extremamente
relevante para o fazer institucional ao direcionar sua escuta
qualificada para o processo de ensino-aprendizagem, compondo equipes de
trabalho a exemplo de Comissão Interna de Acompanhamento das Ações de
Permanência e Êxito dos Estudantes do IFRN (Cipe/IFRN), O Núcleo de
Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas(NAPNE/IFRN), o Núcleo
de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI/IFRN), a Comissão Própria
de Avaliação (CPA/IFRN), Comissão Interna de Saúde do Servidor Público
(CISSP/IFRN), colegiados, órgãos de classe, grupos de gestão, comissões
de promoção à saúde e qualidade de vida no trabalho locais, e outras
equipes”, apresentou.
O Grupo de Psicologia do IFRN acredita que, diante de toda
essa complexidade, são muitas frentes de trabalho. Isso gera a
necessidade de mais profissionais na Psicologia do IFRN. De acordo com o
reitor José Arnóbio, a Instituição busca esse reforço da equipe nas
interlocuções nacionais para a ampliação do quadro de servidores. "Essas
buscas têm o objetivo de gerar um melhor atendimento aos nossos
estudantes para a promoção de mais bem-estar e integridade humana a
eles, tendo como consequência o desenvolvimento econômico e social do
estado", destacou o reitor.